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Família Manfrin

CARMELINA VICTORIA MANFRIN

 

          Nesse relato quero compensar as poucas informações que apresentei sobre minha mãe Carmelina Victoria Manfrin na página 182 do livro da família Pasuch. Carmelina nasceu em 20 de agosto de 1922 na comunidade de Sete de Setembro em Frederico Westphalen, RS, e está registrada como sendo nascida a 20 agosto de 1924 em Seberi, RS. Carmelina é filha de João Manfrin Sobrinho nascido em 09 de março de 1892, em Vale Vêneto, RS, casado a 12 de abril de 1910 em Nova Palma, RS, com Rosa Crestanello, nascida em 28 de outubro de 1891 também em Nova Palma, RS. Na sua infância de menina era muito bonita e admirada por seus irmãos. Vivia com mais 8 ou 10 famílias de tios, primos e vizinhos. Todos eram muito unidos, pois entre os parentes existia respeito e a obediência aos pais era sagrada. Por isso, reinava uma grande harmonia entre eles. Carmelina participava das cantorias realizadas pelas famílias Manfrin e Porfírio, que lhe davam condições de revelar seus talentos artísticos, ensaiados com palavras e gestos. A vida familiar e comunitária proporcionava muita satisfação, pois seu mundo era pleno de vida e alegria, tanto em casa quanto na Igreja. No auge de sua adolescência, Carmelina era uma menina encantadora.

A primeira grande perca não tardou a acontecer para Carmelina. Em 13 de agosto de 1938 faleceu sua mãe Rosa Crestanello, quando ela se mudou da vida terrestre para a vida celeste. Em seu derradeiro leito, já em transfiguração, Rosa balbuciou com voz frágil, dizendo: “Varda quanti angeleti de bianco qui che mi ciapa par el cielo”, que significa: Veja quantos anjos de branco estão me pegando para levar ao céu. Essas foram as últimas palavras da mãe Rosa. Quando sua mãe Rosa faleceu, Carmelina disse que ela foi morar com sua mãezinha no céu e começou a chorar. Na morte de Rosa Crestanello brotaram lágrimas em sua filha Carmelina, as mesmas que neste momento, a 29 de setembro de 2014, se repetem neste modesto escritor, a quase um século depois. Que dirá meu caro parente leitor sobre esse acontecimento espiritual? Acredito em sua sensibilidade, pois a nossa estirpe se perpetua, de centenas de gerações passadas até nossos dias, da fundação de Roma em 21 de abril de 753 a.C. até 11 de janeiro de 2015 em Manfrinópolis no Brasil, ano do primeiro encontro da família Manfrin.    

          No ano de 1953, depois de morar por alguns anos na Linha Canudo, na comunidade Santo Antonio, em Seberi, RS, Carmelina Manfrin e seu esposo Alberto Pasuch mudaram-se junto com alguns de seus tios e primos para a comunidade de São Pedro do Florido em Santo Antônio do Sudoeste, PR. Veio junto o tio José Manfrin nascido em 26 de junho de 1932, casado com Thereza Balestrin nascida 02 de fevereiro de 1930, que tiveram os filho Sérgio, nascido em 1953, Nilce, Nivio, Vilmar, Jaime, Celso, Melania, Nilva, Maristela e Luiz. No ano de 1970 tio José mudou-se para Capitão Leônidas Marques, PR. Também vieram na viagem Damore Bandiera, nascido em 1931, e Mistica Stanga, casados em 31 de maio de 1951 em Frederico Westphalen, RS, e o primo Alceu Manfrin, filho de Valentin Manfrin. Como tio José Manfrin foi seminarista no seminário do Verbo Divino em Frederico Westphalen, sempre pediam para ele ler a Bíblia e explicá-la, o que fazia com muito entusiasmo. Tanto em Santo Antonio quanto em Capitão, muitos amigos iam à casa do tio José para tomar vinho, porque sempre tinha parreiral e pipas cheias de vinho. Tio José e tia Thereza eram muito generosos: cuidavam dos filhos com dedicação e também ajudavam os vizinhos quando precisavam de auxílio no trabalho.

Em Santo Antonio do Sudoeste, PR, minha mãe Carmelina e meu tio José cantavam juntos, sempre bem afinados. Em 1989, Carmelina e sua irmã Josepina foram convidadas para cantar na Romaria da Terra na comunidade do Cerro Negro, junto com a sobrinha Cleusa, seu filho Adelir, a neta Eliane e a vizinha Luciana, como consta na foto 66 do livro da família Pasuch. Não temos vídeo dessa apresentação, mas temos algumas fitas gravadas com Carmelina cantando.

Tio José contava que na Revolta dos Colonos em 1957, na cidade de Santo Antonio do Sudoeste, havia muitos tiroteios, fazendo com que os colonos, apavorados, se escondessem de todas as formas: em buracos, bueiros, trincheiras, barrancos etc. Ele escreveu até uma décima sobre a Revolta, ou seja, uma poesia, e depois a recitava para parentes e amigos, mas infelizmente a poesia se perdeu.

Em 24 de dezembro de 1943 minha mãe Carmelina e meu pai Alberto Pazuch foram de caminhão Ford F8 junto com alguns convidados para se casar no Cartório Civil de Seberi, RS. Depois de casados, Carmelina passou a morar com os sogros João Pasuch e Graciosa Bernardelli em Osvaldo Cruz, distrito de Seberi, RS. Em 1944 nasceu Cecília, que fez companhia a sua mãe Carmelina, quando seu pai Alberto foi para Uruguaiana servir no quartel no 8º RC, Regimento de Cavalaria. Em 1945, meu pai Alberto participou da recepção da FEB, Força Expedicionária Brasileira que voltava da Itália, onde lutou na segunda Guerra Mundial. Como Carmelina enfrentou essa fase? O fim da Guerra era um mistério e sabia ela que, a qualquer momento, Alberto também poderia ser convocado para ir lutar na Itália. Por isso, pedia a Deus que ele retornasse para casa o quanto antes. A esperança de Carmelina se juntava ao amor por sua primogênita Cecília, o que lhe dava forças para prosseguir com os afazeres domésticos e o cultivo da lavoura, onde plantou uma roça de arroz. Assim, sua sogra Graciosa Bernardelli teve uma ótima nora dedicada à família e muito trabalhadora. Quando Alberto voltou de Uruguaiana, seu pai João havia vendido uma das propriedades, ficando somente com um lote. Por isso, Alberto e Carmelina compraram uma propriedade rural na Linha Canudo na comunidade Santo Antonio em Seberi, onde eu nasci. Em Seberi nasceram também Cecília, Benjamin, Alberi e Soeli.

Em 1953, quando eu tinha apenas 6 meses, meus pais mudaram para a fronteira do Brasil com a Argentina no município de Santo Antonio do Sudoeste, PR. Nesse tempo, além de Carmelina, tia Hilda também veio morar com minha mãe na Linha Valdomeira em Santo Antonio. Já os tios José e Josepina, conhecida como Pina, foram morar na comunidade de São Pedro do Florido.

Em Santo Antonio meu pai Alberto comprou um direito de terra, ainda sem escritura, na Linha Valdomeira por 6 contos de réis que equivale também a 6 milhões de réis. Alberto também comprou uma área grande de terra em São Pedro do Florido de posse do senhor Belizário. Contudo, Belizário, que vendeu a terra, disse que se Alberto não fosse morar na propriedade, iria vendê-la para outro colono. Para não perder o dinheiro nem a terra, Alberto pediu o valor já pago pela propriedade e a devolveu para o senhor Belizário. Tia Josefina Manfrin casada com o tio Adolfo Balestrin, irmão de tia Thereza Balestrin casada com o tio José Manfrin, trabalhavam de ferreiro em São Pedro do Florido e cultivavam parreirais para fazer vinho e vinagre. Tio José Manfrin trabalhava como engenheiro e carpinteiro, construindo a primeira Igreja em madeira beneficiada com máquina na comunidade de São Pedro do Florido e a ponte sobre o Rio Valdomeira, que liga São Pedro do Florido a Linha Parda em Pranchita. Na Igreja, José Manfrin era capelão e cantava com a tia Pina. Em São Pedro do Florido também reside Rosa Manfrin casada com Lino Botton, prima-irmã de Carmelina.

          Carmelina Victoria, mulher destemida e determinada, criou seus filhos Cecília, Alberi, Soeli, Altamiro, Albenez, Adelir, Altaides, Evanir e Beatriz com muita dedicação e trabalho. Com linguajar culto, tinha respostas sábias, acompanhadas de citações bíblicas para orientar seus filhos com bons exemplos de vida, sempre respeitando a Deus. Trazia de berço a oração, e em qualquer situação nos recomendava a invocação da proteção divina. Como mãe tinha bondade incondicional para com seus filhos. Na educação dava exemplos e conselhos. Preferia chorar a reclamar com os filhos e o marido. Na amamentação dos filhos era uma fonte de seiva e ternura. Seus bebês eram umas “bolachas” de tão fofos. Acredito que cuidava dos filhos com maternidade quase divina, como está escrito no livro do profeta Isaías, capítulo 49, versículo 15: “Uma mãe nunca se esquece de um filho que amamenta.”

          Minha mãe Carmelina sempre foi nossa apoiadora, personagem decisiva na trajetória de seus filhos e marido. Na Igreja foi uma liderança orientadora e fazia parte do grupo das Filhas de Maria na Capela Bom Jesus, na Linha Valdomeira. Em momento de decisões, delicadamente erguia as mãos e falava pausadamente palavras de sabedoria. Mostrava o caminho a seguir com palavras e gestos. Carmelina era uma pessoa muito sensível com os problemas e sofrimento de seus filhos, ensinando-os também a ajudar o próximo. Era solidária com parentes e amigos, pois sempre que precisavam, fazia doações de alimentos e dinheiro, porque possuía boas condições econômicas. Seu único defeito foi sempre dizer sim, não sabia dizer não a quem lhe pedisse ajuda. No lar era excelente amiga, sempre pronta a servir a todos com um sorriso simpático. Nos ensinou a trabalhar, pois primeiro vem o trabalho e depois a diversão, mas também nos ensinou a cantar, porque era mestre em música e cantava com voz de soprano.

O último pedido de Carmelina Manfrin foi que seus filhos e netos permanecessem unidos após sua partida, pedido com o qual me comprometi, dando minha palavra que faria o possível para manter a família unida. Não cansava de afirmar: quem fizer o bem com muita fé terá a recompensa no céu, deixando esse ensinamento espiritual como o maior bem a seus filhos. Ao deixar seu corpo físico aqui na terra, sua alma nasceu para a vida espiritual no céu. Por isso, ainda continua viva entre nós, porque esse lado oculto da vida espiritual é imortal. A prova disso é que antes de nascermos, sem nossa mãe, éramos invisíveis, no entanto, hoje, somos reais. Eu acredito, como humilde ser humano, que o que vemos é muito pouco diante do que é invisível aos olhos. O bem, que Deus tem preparado para nós no céu, é infinitamente maior do que o bem que conhecemos aqui na terra.

 

 

Altamiro Manfrin Pazuch

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