Artigos de opinião

Histórico de Corona Pasuch Baldin

 Filha de Domenico Olivo Pasuch, nascido em 29.05.1866 em Sedico, Itália, e falecido em 08.02.1930 por afogamento no Rio da Prata, tentando travessia a cavalo, e Luigia Durante Pasuch, nascida em 27.02.1874 e falecida em 08.09.1957.

           Neta de Pietro Giovanni Pasuch, nascido em 29.06.1825 e falecido em 02.06.1900 e Antônia Palma, nascida em 12.08.1834 e falecida em 25.05.1883. Bisneta de Antônio Pasuch nascido em 19.10.1786 e trineta de Francesco Pasuch nascido em 1760.  

           Corona Pasuch, nasceu em Antônio Prado, RS, na Linha Paranaguá em 26.01.1897 e foi batizada em 13.03.1897. Casou-se na Igreja de Nova Roma do Sul, RS, com 17 anos de idade, com João Baldin, 22 anos, no dia 30.04.1913. Corona teve 12 filhos: Angelo, Tereza, Santina, Genoveva, Pedro, Amabile, Santo, Lúcia, Antonio, Iza, Luiz e Elio. Corona faleceu em Iraí, RS, em 13.03.1958. Quando tinha quatro filhos, no ano de 1920, o casal mudou com os filhos, juntamente com outras famílias, (todos parentes entre si) para o Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Também vieram na mesma viagem à família da Maria Pasuch e seu esposo Valentin Baldin. Outra irmã que veio junto foi a Augusta Pasuch Sichelero.

O transporte da época era no lombo de mulas. As crianças vinham dentro de cestos feitos de taquara pendurados um cada lado das mulas. Já os adultos andavam a pé, pois não existiam estradas, apenas picadas no meio da mata virgem. Por isso, tinham que vir abrindo a picada à facão, imagine a viagem!  

Fizeram duas paradas breves durante a viagem. Uma em Vila Maria, e outra em Marau, que na época pertencia ao município de Passo Fundo, onde se casaram no Cartório de Registro Civil em 15 de maio de 1920. Outro aspecto interessante é que na época não existia pontes sobre os rios, isso fazia com que eles ficassem acampados por muitos dias nas barrancas dos rios até conseguirem um lugar que desse condições de passar  (lugar que desse passo). Os outros filhos nasceram todos em Iraí, cidade onde ainda moram até hoje muitos descendentes da Corona.

Corona Pasuch Baldin foi uma mulher muito guerreira, pois seu esposo João Baldin (Giovane) adoeceu muito cedo e ela teve que comandar a família de 12 filhos por muitos anos. Além disso, em 1944, teve que enfrentar uma grande provação, porque o filho dela, Santo Baldin, no fim do ano, foi convocado para ingressar no exército com a função de ir para a II Guerra Mundial na Itália. Sorte que depois de alguns meses, Santo Pasuch Baldin retornou ileso, porque em 1945 acabou a guerra e não precisou ir aos campos de Batalha. Em 1952 ficou viúva e com crianças pequenas, por isso, teve que administrar por mais seis anos a família. Faleceu em 1958 em Iraí, RS. 


Iraí, 09 de junho de 2010 

Verli Francisco Baldin (Neto)

Saudades!


O FENÔMENO DA IMIGRAÇÃO EM SEDICO

 

Egidio Pasuch

        


           

Que sentido pode ter um estudo sobre emigração local? E antes ainda, é possível uma história da emigração da cidade de Sedico?  

Uma resposta a essas duas questões parece suficiente para não pedir demais ao trabalho que segue, pois ele não tem nem a ambição nem as proporções de um estudo ou de uma investigação.   

Assim: é possível uma história da emigração da cidade de Sedico? Quais são as informações e documentos que temos, nos quais podemos nos embasar para traçar um perfil "particular" (mas só porque ele é limitado a um específico âmbito local) do fenômeno imigratório? Também, neste caso, existem evidentemente enormes dificuldades para quantificar primeiramente este fenômeno. Sim, claro, dados muito aproximativos e condicionados por muitas incertezas e distinção, são facilmente encontrados. Mas nada de concreto e seguro. E assim vem a tentação de recorrermos a uma “história social". A qual, dadas as necessidades de nossa publicação, seria extremamente fora de proporção, provavelmente equivocada, também, penso eu, pouco gratificante para o autor deste estudo e para o leitor, certamente não especialista.   

Coloquemos, sem mais delongas, mãos à obra, no que diz respeito à utilização de fontes, já muito pobres, superficiais e incompletas, como têm lamentado os que antes de nós e, naturalmente, melhor que nós, falaram sobre essa questão num quadro mais amplo. Certo, a re-sistematização (talvez não seja o caso de falar de uma verdadeira reorganização) dos arquivos municipais - agora finalmente no bom caminho - e dos paroquiais – aos quais não se pode pedir muito – poderá dar alguma contribuição mais precisa aos argumentos.  

Uma história da emigração no município de Sedico surge, portanto, condicionada por esta série de observações que restringem o trabalho do pesquisador, e em parte o desanimam.

Que sentido pode ter, então, essa nossa intervenção? Não pretendemos, e a esta altura está claro, dar uma contribuição maior do que já deram os imponentes estudos e para nós insuperáveis, que existem sobre a imigração belunesa e veneta. O que as fontes e as ocasiões nos permitem é a procura na sede do município de uma fonte ou de uma série de fontes que, em geral, falam sobre o fenômeno da imigração em Vêneto e Belluno.   

A este objetivo, que já colocamos como limite, somaremos um segundo limite, por assim dizer, um limite cronológico. Prescindiremos também, por conseguinte, de qualquer análise sobre o tipo de emigração que ainda está em andamento, para o qual, não nos sentimos preparados, seja ela relacionada à política, à econômica ou à sociedade, pelo menos, que uma análise deste tipo implicaria.

 

1. A emigração nas montanhas do Vêneto  

         

No último quartel do século passado, a emigração do Vêneto assumiu proporções excepcionais: entre 1876 e 1900 emigraram de forma permanente 400.000 pessoas, e pelo menos, 55.000 foram para o exterior para fins de trabalho. Na prática, cerca de 13% da população vêneta procurou constantemente ir para o exterior nos últimos anos em busca de melhores condições de vida ou, pelo menos, de mais chances de sobrevivência.  

Em quase todo o Polesine e outras áreas das províncias de Treviso, Veneza e Verona, o êxodo definitivo atingiu quase 30% da população. Os picos mais altos foram registrados entre 1888 e 1891, nos anos negros da economia italiana, mais ou menos concomitantemente com a grande crise agrária. A montanha vêneta e a belunesa se interessaram, sobretudo, pela emigração temporária. 

O aumento gradual, mas constante da população em uma região caracterizada pelos recursos limitados do terreno, empurrou as pessoas para o exterior, das montanhas de todo o Beluno, das verdadeiras e reais massas de mineiros (que extraíam carvão das minas de Westfalia, ou o ferro de Luxemburgo), pedreiros e forneiros (direto para a Croácia, Romênia, Hungria), de madeireiros e carvoeiros (que exerciam suas atividades na Caríntia e Estíria), de trabalhadores (que seguiam em direção ao oriente a construção de ferrovias e rodovias). Quantos foram estes imigrantes temporários que a cada ano partiam na primavera e depois voltavam para casa só para passar o inverno? Se diz que foram 55.000. Outros dados nos levam ainda a aumentar a cifra para 100.000 pessoas nos anos mais difíceis (nos referimos aos dados relativos a toda a montanha do Vêneto). Mas qualquer medida, pelo menos ao longo do século XIX, é impossível. E esta, a rebateremos mais à frente, e isso também se aplica a Belluno e a Sedico.  

De acordo com os dados mais confiáveis, a imigração temporária belunesa chegou ao redor de 11% da população. Os percentuais mais altos foram detectados nos distritos de Agordo e Auronzo. Os percentuais mais baixos foram vistos em Val Belluna, a parte mais baixa e menos improdutiva de toda a província. Em suma, para se chegar e ariscar uma cifra (desde o momento em que as primeiras estatísticas oficiais se referem somente aos primeiros anos do século em andamento) podemos retroceder aos dados fornecidos por Riccardo Volpe, secretário da Câmara de Comércio de Belluno. De acordo com estes números, em 1869, 11.092 migrantes temporários foram para outras províncias do Reino da Itália, enquanto 11.178 se dirigiram para o exterior.  

Aqui, um esclarecimento inicial. A emigração para outras províncias do Reino, portanto, era notável. Considerando os que partiam de Cadore, eram fabricantes de cadeiras que desciam de Agordino, empregadas domésticas e cozinheiros que de Alpago iam especialmente a Veneza, enfermeiras que iam desmamar os filhos das melhores famílias de Milão, Florença, Turim, Pádua ou Veneza. Também houve uma imigração de mulheres, embora limitada.   

Se poucas eram as mulheres que partiam junto com seus maridos em viagens longas para a terra dos Habsburgos, mais relevante para delinear, foi a imigração das mulheres belunesas para outras províncias do Reino. Cerca de 14-15% de toda a população imigrante era constituída de mulheres que partiam como empregadas domésticas ou enfermeiras e se dirigiam para Vicenza, para trabalhar nas primeiras indústrias têxteis, ou para o Trentino para trabalhar na agricultura sazonal.

 

2. A emigração em Val Belluna  


        "La Val Belluna – observava um melhoramento há quase 60 anos atrás - tem poucas áreas cultivadas com cereais e, além de um alto percentual de terras áridas ou pouco produtivas; notável é a divisão da propriedade; bastante alta a densidade populacional e ainda superior a densidade média do Reino nas últimas décadas. Parecia - e parece também a nós - natural que, quando a região começou a conter uma quantidade de população que não podia mais ser alimentada com os recursos locais, o agricultor procurou outras formas de recursos que eram negados na sua própria terra, tentando restaurar o equilíbrio entre as condições econômicas e o desenvolvimento demográfico. Menos ligado, mas também para não dividir mais a propriedade, da "montanha" para a casa e em um terreno de que era apenas "colono", o meeiro, buscou na imigração uma solução permanente. A Val Belluna é precisamente caracterizada, nestes anos, por uma imigração definitiva que alcançou percentuais elevados (em torno de 10%), e inversamente, por uma imigração temporária restrita em relação às outras áreas da província (pelo menos no último quartel do século passado). A emigração propriamente definitiva, geralmente transoceanica, começou a adquirir certa importância a partir de 1880. Os primeiros a emigrarem foram pequenos proprietários levados à falência devido aos altos impostos ou pelas péssimas vendas; somente mais tarde iriam partir os mais pobres que não tinham nem mesmo o necessário para comprar um bilhete para a América que custava cerca de 200 liras. Posteriormente, as companhias de navegação e a colonização brasileira começaram a facilitar mais a viagem. Intensa era a necessidade, principalmente no Brasil, de mão-de-obra barata, devido à abolição da escravidão e dos programas governamentais de colonização interna. Foi, assim, a América que atraiu os primeiros emigrantes que decidiram deixar a pátria de forma permanente. Mas não foi por isso que faltou o peso, bastante significativo, embora muito menor do que a de outros distritos, da imigração temporária.  

Até a Primeira Guerra Mundial a emigração, quase sempre temporária, se dirigia, sobretudo, para a Áustria, Alemanha, Suíça e Luxemburgo. A guerra reduziu muito a imigração temporária, que se tornou insignificante durante os anos de conflito, mas depois da guerra voltou a ser elevada novamente. Desta vez, com novos destinos: França e Bélgica careciam de muita mão-de-obra para reconstruir o país destruído pela guerra. E a emigração falou por alguns anos principalmente francês.

 

3. A emigração de Sedico antes da Segunda Guerra  

         

        Se se deve dar credito as informações fornecidas por Errera e relativo a 1869, havia em Sedico, logo após a unificação, 232 emigrantes em uma população de cerca de 3700 habitantes, a maioria dos quais dedicados ao trabalho no campo, no momento em que os primeiros estabelecimentos industriais não eram capazes de dar trabalho a mais do que uma dúzia de operários. De outras atividades artesanais e industriais, Sedico não podia se vangloriar. A imigração sedicense encontra, portanto, suas raízes nos mesmos fatores que determinaram o fenômeno em áreas mais amplas. Mais tarde, abordando a natureza da imigração e origem dos imigrantes, compreenderemos melhor também essas afirmações.  

Dos 272 emigrantes lembrados por Errera, a maior parte se dirigia a outros países. Apenas 65 se dirigiram para outras regiões do Reino da Itália. Mas quando nasce o fenômeno migratório em Sedico? Presumivelmente, no momento em que não podemos documentar de forma diversa as nossas afirmações, ou seja, nos mesmos anos em que o fenômeno nasceu nas outras partes da província; nas primeiras décadas do século passado. E para dar fé a um documento que não mereceria crédito devido à superficialidade de sua natureza, (nos referimos a um estudo muito conhecido sobre imigração de Antonio Maresio Bazolle) podemos inicialmente arriscar que o fenômeno foi menos visível do que em outras áreas. Por outro lado, esta hipótese também encontra apoio no contexto mais amplo de Val Belluna. A maioria dos migrantes seguiu quase que certamente as orientações mais comuns, ou seja, migraram para outras cidades do Império Italiano. Os únicos documentos que podemos citar em apoio à nossa tese (mas não nos esqueçamos daquilo que è nosso objetivo, ou seja, obter provas locais de um fenômeno já bem conhecido e preciso ao redor) são algumas deliberações de junta que atestam a presença de imigrantes de Sedico, que por razões de saúde, haviam sido hospitalizados para se recuperar no hospital de Wieden e de Leoben e em outros lugares do Império. Muito pouco se poderá objetar. Certo é que de nossas pesquisas não se revelaram nenhuma informação que pudesse nos desviar desta direção: enfim, dos poucos documentos encontrados, todos vão em direção às hipóteses já levantadas.  

A migração temporária, terminando muitas vezes por escapar em toda sua complexidade, também aos olhos dos contemporâneos, por aparecer como algo corriqueiro, nem mesmo digno de ser anotada nos registros do município ou da paróquia, constitui, no entanto, um fenômeno de grande importância para a cidade de Sedico.  

Se quisermos avançar para uma reformulação dos dados oficiais sobre os imigrantes que deixavam a sua terra por motivos de trabalho, perceberemos que em todo o contexto de Val Belluna, o município de Sedico atingiu taxas maiores de imigração. Se em 1884 apenas 30 pessoas deixaram Sedico para cada 1000 habitantes (a cidade contava com pouco menos de 4000 habitantes), em 1900, ano em que houve o maior percentual de pessoas que imigraram, 154 sedicense partiram da cidade por motivo de trabalho para cada 1000 habitantes. Em termos de percentual absoluto, apenas Trichiana, entre as cidades de Val Belluna, foi pior do que Sedico (196 emigrantes por 1000 habitantes). Mas em Trichiana, 3 anos mais tarde, a imigração atingiu proporções inacreditáveis. 30,5% da população imigraria. O condicionamento a esta altura é uma realidade, dadas as dificuldades já previstas para aceitar como verdade todos os dados que possuimos (embora publicados com alguma melhoria). Em 1910 a taxa anual de emigrantes caiu novamente: chegou a apenas 8,4%. A guerra, então, quase apagou o fenômeno, orientando-o sucessivamente para uma nova direção, (França e Bélgica, em primeiro lugar).  

Deve ser dito que, mesmo com uma leitura superficial dos registros paroquiais, tomamos conhecimento de certo número de batizados na Suíça, na primeira década do século. O que nos faz pensar que uma boa percentagem de emigrantes tinha sido progressivamente orientada para este país, e que, ao contrário de outros países europeus, muitos imigrantes tiveram que se instalar permanentemente por mais anos com sua família.

No que diz respeito à imigração propriamente dita, definitiva e, quase sempre transoceânica, os dados de que dispomos são muito poucos, mas eles indicam a importância e a dimensão do fenômeno.   

Na "relação da população" residente na paróquia de Sedico, o pároco Padre Giovanni Battista Pagello, afirmou, com certa segurança, que a partida de quem foi para a América era definitiva. Esse discurso - acredito poder objetar agora - o que pode ser feito também com relação àqueles que tinham se estabelecido permanentemente em outros países europeus. Mas talvez aos contemporâneos – e Giovanni Battista Pagello não constitui uma exceção – a emigração, mesmo de uma família inteira, para outros países europeus, nunca aparecia como algo definitivo. Isso, talvez, também por força dos constantes retornos à pátria e do desejo de um dia retornar definitivamente a casa. Ao invés disso, impressão muito diversa deveria causar a partida de toda uma família que embarcavam para a América.  

Nos registros da Igreja a primeira partida para um país americano remonta a 1876. De fato, em 30 de setembro desse ano partiu para a Venezuela Giovanni Battista Bristot junto com a família de Giacomo Cugnago, colonos de Bribano. A análise dos registros da população residente na paróquia de Libano poderia, talvez, antecipar a data das primeiras partidas, em alguns anos, mas ficaríamos um pouco surpreso se a data fosse movida consideravelmente para trás.

Um número considerável deixou a cidade de Sedico entre 1890 e 1891, se dirigido quase sempre para o Brasil.   

Em 1891, somente da paróquia de Sedico (nos baseamos sempre nos registros da população residente na paróquia de Sedico escrito por Padre Giovanni Battista Pagello) partiram pelo menos 7 famílias (cerca de quarenta pessoas). Assim também, numerosos foram, provavelmente, aqueles que emigraram neste ano da paróquia do Líbano.  

Quem emigrava? Geralmente eram colonos aldeões: e apenas em um caso, o de Angelo Bonafé, que emigrou de Sedico em 12 de setembro de 1891, Padre Pagello pode anotar a qualificação de artesão. Para começar não havia idade: partiam camponeses avançados em anos (como é o caso de Giovanni Bortot que com 62 anos deixou Sedico em 6 de novembro de 1891 com sua esposa e seu filho Angelo), com crianças ainda pequenas. A época era sempre a mesma: o outono, quando os trabalhos do campo já tinham terminado e a venda das culturas e dos poucos bens servia para reunir uma quantia suficiente para partir. E partiam em grupos de 4 a 5 famílias orientadas por agentes de imigração, aproveitando as facilidades concedidas pelas companhias de navegação e do governo brasileiro, que estava colocando em prática os primeiros programas de colonização interna, imediatamente após a abolição da escravatura.  

Mas evidentemente não se partia somente para o Brasil. Muitos, mas não é possível dizer, mesmo neste caso, quantos (talvez a análise de alguns documentos contidos no arquivo do município ou de qualquer relação dos prefeitos daqueles anos, poderá nos dar no futuro algumas respostas definitivas) partiram para os Estados Unidos. Provas nesse sentido não faltam certamente. Quarto-Americo e Quinto Mussoi, por exemplo, nasceram na Pensilvânia durante a Primeira Grande Guerra. Mesmo sem querer alargar o campo das fontes das quais atingimos, os testemunhos orais...

 

4. A emigração no período pós-guerra

       

        Um quadro bastante original da imigração sedicense depois da Primeira Grande Guerra Mundial é fornecido pelos artigos e pelas rubricas que o Padre Luigi Fiori, pároco de Sedico, publicou com freqüência a partir de 1925 no “Boletim paroquial”. Os artigos reservados para os emigrantes tinham sorte quando o pároco decidia, por alguns anos pelo menos, reservar um espaço no "Boletim" aos imigrantes e os seus problemas. "Percebi, escreveu Padre Luigi, em 1926 - que o nosso “Boletim paroquial" é lido de bom grado em cada família, e também enviado a alguns imigrantes... De minha parte, fico contente que a boa palavra possa chegar a todos os paroquianos dispersos nas terras quentes da Líbia, nas montanhas geladas da Suíça, em países devastados pela França e além-mar. Longe como estão muitos das igrejas, leem com prazer no "Boletim" um pensamento religioso que elevará os seus espíritos...  

Eu ofereço minhas saudações e votos de que possam retornar ao seio de suas famílias com um justo retorno por seu trabalho. Nesta passagem, me parece que encontro as razões, as legitimações, a tantas declarações feitas por nós, e apontamentos para futuras reflexões.

Locais de destinação, mentalidade, causas, surgem aqui e acolá no discurso. Em particular, nos parece sublinhar a preocupação do pároco de levar ao imigrante o conforto religioso.  

Emigrar, é claro, significava, talvez, abandonar definitivamente tradições de séculos para entrar em contato com novas religiões, com mentalidades e sistemas de vida bem diversos. O imigrante, especialmente do outro lado do eceano, permanecia substancialmente ligado as suas próprias tradições. Mas as crianças gradualmente se desligavam das tradições dos pais: "Felizmente, o banal anti-clericalismo dos homaistas que encantam os países da América Latina (América), não floresceu nos povos do Norte. ... É verdade que a italianidade desaparece: os velhos falam seus próprios dialetos e os jovens falam somente americano... são americanos e tem que ser assim... Essas afirmações, servem também, nos parece, para evidenciar a proporção do fenômeno migratório para os países da América do Norte. 

Uma assinatura do "Boletim" foi dedicada, com certa freqüência, diretamente aos emigrantes, desde 1927. Geralmente, os assuntos eram aqueles já mencionados: predominavam os conteúdos de caráter moral e religiosa, os episódios edificantes, histórias dos imigrantes (como a de Luigi Pasuch que morreu cristãmente nos Estados Unidos depois de ter se estabelecido como um professor cristão de música). Mas também não faltaram informações de caráter jurídico, observações de natureza social e política. Com relação aos migrantes sazonais, o "Boletim", escreveu na edição de fevereiro de 1928: "Um bom número de jovens e pais de família estão se preparando para estes dias deixar o país para ir para outro lugar em busca de trabalho. É uma dura necessidade dos nossos municípios que não oferecem trabalho suficiente para todos.   

A emigração não era, portanto, como argumentaram alguns, uma escolha de conveniência ditada pelo desejo de ganhar. No entanto, havia perigos, especialmente para as mulheres: "E nesta época (fevereiro), muitas garotas também se dirigiam à cidade para se colocar a serviço de algumas famílias". Um espetáculo triste, pelo menos era o que parecia ao pároco, “porque se sabe a quais perigos eram expostas devido à inexperiência e quanto mudam (raramente para melhor) depois de alguns anos." "Em Milão - contava Padre Fiori - havia muitas moças na minha paróquia. Uma estava todas as noites na galeria para sair com o primeiro que aparecesse e era de todos, outra que parecia mais séria se tornou ligeirona, Tizia foi expulsa de casa pelos patrões, Caia, quando pode, não falta às festas, Sempronia foi vista nos jardins com um cara muito suspeito. Na cidade comportam-se frivolamente, caprichosas, consomem boa parte do que ganham com vestidos e divertimentos”. As preocupações de Padre Fiori eram aquelas de muitos. Mas outras fontes também dizem quanto eram apreciadas as moças que andavam pela Itália como babás ou como empregadas.   

Vamos tentar agora colocar valores no meio deste retrato de natureza social. No relatório sobre a estrutura demográfica da província de Belluno, em 1931, um primeiro dado aparece com certa evidência: O declínio da população residente na cidade de Sedico entre 1921 e 1931. Os habitantes em 1921 eram 6772; em 1931 diminuiu para 6505. Com a emigração, a população diminuiu em 267 pessoas, como explicava o Conselho Corporativo de Economia (que a crise do pós-guerra aumentou ainda mais), o que foi se tornando cada vez mais permanente.  

Para pôr fim a esse êxodo da província, o governo havia tomado medidas concretas em um plano de ação para 1927, que previa reflorestamento, sistematizações de bacias de montanhas, melhoria das pastagens e potencialização do turismo. Porém, a maioria destas medidas poderia aumentar a própria crise que primeiro atingiu os Estados Unidos e, depois, em conseqüencia, a Europa que ainda estava pagando as suas dívidas contraídas para a reconstrução.

Mais que isso não nos propomos a fazer. Alguns pontos de interesse não faltam: quais foram os reflexos da política fascista sobre a migração da nossa casa? A guerra na Etiópia tem sido um propulsor para uma nova onda de imigração? E a guerra terá provocado quais conseqüências? Qual foi a tendência da imigração depois da Primeira Grande Guerra e durante os anos de crescimento econômico? E como está, finalmente, a situação no momento?  

São problemas certamente muito fascinantes, mas que extrapolam os nossos objetivos já identificados inicialmente. Também não podemos esquecer a própria natureza deste livro e a função desta intervenção que é, sobretudo, ilustrativo de uma série de realidades fotografadas e reproduzidas. O leitor que não quer esquecer tudo isto, nós perdoará tanta superficialidade, a partir do mesmo método que seguimos e que não temos a pretensão de que seja científico, mas saberá reviver através dos dados, provas e reflexões, um fenômeno de proporções verdadeiramente vastas que aparece como uma verdadeira revolução.

 

Bibliografia

 

R. Volpe: A província de Belluno. Notícias econômico-estatísticas, Belluno, Deliberali, 1871.

E. Migliorini: A Val Belluna. Estudo antropogeografico, Roma, Instituto de Geografia da Universidade de Roma, 1932.

Conselho Provincial de Economia Corporativo de Belluno: Relatório sobre a Estrutura e a situação econômica sobre a Província de Belluno de 1931, Belluno, 1932.

A. Maresio Bazolle, Da imigração de camponeses beluneses, 1892.

A. Errera: Atlas estatístico, industrial, comercial e marítimo do Vêneto, com quadros comparativos, Milão, Veneza, 1871.

Boletim paroquial da Paróquia de Santa Maria Annunziata de Sedico (1925-1928).

A voz do padre, Boletim paroquial da Paróquia Santa Maria Annunziata de Sedico, (1929-1939).

E. Franzina, As origens do fluxo imigratório no Veneto (1866-1886). In: “Revista Belunesa" n.7-8 (1975-1976).

E. Franzina: A grande migração. O êxodo rural no Vêneto durante o século XIX, Veneza e Pádua, Marsilio, 1976.

Enfermeira de leite. Uma forma peculiar de migração temporária (por P. Perco, Feltre, C.M.F. 1984.

A. Lazzarini, Campos do Vêneto e emigração em massa (1866-1900), Vicenza, Instituto para a investigação da história social e história religiosa, 1981.

 

Fontes inéditas

 

Arquivo Paroquial de Sedico: Estado da população residente na paróquia de Sedico (1873)

Arquivo Municipal de Sedico: Deliberações de junta (1870 - ...)